terça-feira, 10 de junho de 2014

Verdades subterâneas




João Saldanha assumiu o comando técnico do Botafogo no fim da década de 1950. Portanto, há mais de 50 anos. Depois de todo esse tempo, algumas das constatações do treinador e jornalista podem estar obsoletas -- pensaria um desavisado. Nada de substancial mudou no futebol: as regras, as hierarquias e a corrupção moral são as mesmas da época que as ideias do pensador de vanguarda do futebol treinava uma das maiores equipes de todos os tempos.

Em "Os Subterrâneos do Futebol", João Sem Medo escancara a rotina de uma concentração e, a partir do convívio com Didi, Garrincha, Nilton Santos, Paulo Valentim, Amarildo e outros jogadores, mostra as hipocrisias e banalidades que circunscrevem todo o universo do futebol. Os preconceitos desses ambientes estão ali naquelas páginas, desnudos.

Entre os diagnósticos mais precisos do Saldanha está a importância da cultura afrodescendentes para o esporte do povo. De acordo com o técnico, a presença de negros é imprescindível para o futebol. Nos campos e nas arquibancadas, eles são o início do processo de popularização do jogo e o meio pelo qual as competições, atletas e instituições ganharam importância mitológica.

Já não há mulatos e negros nas plateias bacantes do nosso jogo como antes. Nem numericamente, nem simbolicamente. Uma lástima. Também não haverá representação da cultura afrodescendente durante a Copa. A flexibilidade das concentrações também é um dos panfletos distribuídos pelas linhas do livro. Com certeza João Saldanha aprovaria a decisão de liberar Oscar para visitar o filho recém-nascido, tomada por Felipão.

Mesmo com a visita das editoras aos arquivos em busca de títulos de futebol, "Os Subterrâneos do Futebol" não foi reeditado recentemente. Talvez, nem hoje em dia, sejamos capazes de digerir o intragável João Sem Medo. Contudo, vale a leitura. Busque nos sebos, aconselho.

Por Helcio Herbert Neto.

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