terça-feira, 1 de outubro de 2013

O futebol educa: a vez deles


Há pouco mais de um mês, o meia Alex, do Coritiba, concedeu entrevista falando verdades - nada mais que verdades - a respeito do futebol brasileiro e seus graves problemas (confira no vídeo acima). Num tom bastante sóbrio e sereno, o camisa 10 deve ter incomodado muita 'gente grande' com palavras respaldadas em uma visão de dentro para fora, visceral, e em mais de dez anos de experiência europeia.

A entrevista repercutiu bastante e, em uma das discussões que tive, eu e um amigo falávamos sobre quem substitui sujeitos como Alex, como Juninho ou Seedorf (que nem brasileiro é). Bem poderíamos estar falando sobre a categoria deles e a nossa escassa oferta de meias (de craques, vai), mas era sobre liderança, e postura crítica. Como era de se esperar, nos desapontamos com nossas constatações. Acabei não tendo tempo para desenvolver a pauta e isso ficou registrado apenas na minha cabeça.

Eis que há pouco mais de uma semana, a CBF divulgou o calendário oficial de 2014 e, como sempre, causou espanto pela falta de sensibilidade; férias reduzidas, pré-temporada inexistente e datas espremidas para caber tudo num ano de Copa do Mundo no Brasil (confirmada há mais de quatro anos).

Mesmo numa época em que tudo parece "ao contrário", ou seja, caminhando para mudanças significativas, com milhões de pessoas a protestar nas ruas e novos paradigmas (sobretudo da mídia) expostos sem "teto baixo", não seria estranho se o futebol permanecesse flutuando acima de tudo, suspenso na avalanche de "bastas" e reivindicações. Durante a Copa das Confederações, auge dos protestos por todo o país, ouviu-se uma ou outra palavra de apoio comedida por parte dos jogadores, até porque ficaria feio não dizer nada sobre os que entoavam o hino nacional debaixo de bombas a poucos metros dos estádios. Nada muito além disso. O calendário da CBF, porém, parece ter sido a gota d'água num copo que, na real, deve ser uma piscina olímpica. Ao que interessa:

"Nós, atletas profissionais de futebol, com representantes em clubes das séries A e B do Campeonato Brasileiro, vimos, de forma oficial, demonstrar nossa preocupação com relação ao calendário de jogos divulgado na última sexta-feira (20) pela Confederação Brasileira de Futebol para o ano de 2014.

Devido ao curto período de preparação proposto e ao elevado número de jogos em sequência, decidimos nos reunir, de forma inédita e independente, para discutir melhorias em prol do futebol e da qualidade do espetáculo apresentado por nós a milhões de torcedores.

Queremos ser uma parte mais efetiva deste movimento que se faz extremamente necessário e, para tanto, solicitamos uma reunião com a entidade que administra o futebol brasileiro (CBF) para tratar de questões propositivas e de comum interesse.

Estamos convictos de que dar esse primeiro passo significa caminhar na direção do profissionalismo, da transparência e da busca pela excelência no futebol de alto rendimento praticado no Brasil.

Contamos com o apoio de outros atletas e convidamos todos os profissionais do futebol e apaixonados pelo esporte a se unirem a nós nesta iniciativa em benefício do futebol brasileiro.

Informaremos ao público o andamento e os resultados desta nova discussão assim que possível

Sem mais para o momento,"


E foi assim que 75 atletas deram início ao movimento Bom Senso F.C., que ganhou força muito depressa e, hoje, já conta com mais de 300 adesões. Ontem, vários desses atletas estiveram reunidos pela primeira vez e deram um primeiro passo importante. Mantiveram o pedido de reunião com a CBF e aprovaram os cinco pontos centrais de discussão, que são:

1- Calendário do futebol nacional
2- Férias dos atletas
3- Período adequado de pré-temporada
4- Fair Play Financeiro
5- Participação nos conselhos técnicos das entidades que regem o futebol

Estou absolutamente empolgado que isso esteja acontecendo, tanto pelo potencial de melhora do nosso futebol quanto pela aproximação entre "mundo do futebol" e "mundo real". É preciso haver uma conscientização de que os que estão lá não são "peladeiros ganhando R$300 mil para nada", mas artistas pressionados 24h por dia, com a imagem e os corpos expostos a porradas o tempo inteiro e com uma carreira que dura em média apenas 15 anos. Fora os finais de semana e feriados perdidos, viagens cansativas e infindáveis e as insuportáveis concentrações.

Não digo "coitados", mas é preciso saber que aquele sonho dourado de todo menino não é tão dourado assim e que, no fundo, eles são profissionais igual e totalmente diferente de todos os outros. Mas luta válida é luta válida, seja dos professores ou dos profissionais da bola. O futebol educa - tanto ou mais que qualquer outra atividade neste país.

Aguardemos e vamos discutindo.

"Bom Senso Futefol Clube,
Por um futebol melhor.
Para quem joga,
Para quem torce,
Para quem transmite,
Para quem patrocina.
Por um futebol melhor para todos."




Por Beto Passeri.








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