quinta-feira, 11 de julho de 2013

Gogó para o alto


Henrique Alves, presidente da Câmara dos Deputados, e Renan Calheiros, presidente do Senado(José Cruz/ Agência Brasil)

Existem dois tipos que conquistam as mulheres. Quem me disse foi um velho amigo meu, camarada de partidão e vizinho de porta aqui na vila. Há os que chegam nas mulheres com as mãos na cintura, dizem uma meia dúzia de palavras sem sentido só para causar arrepios com o calor da voz e as levam direto para o canto da festa. Outros, também bem-sucedidos, por paixão incomensurável pelos amigos, preguiça existencial ou por brilhante vergonha, optam por encher a tulipa e beber uma gelada junto à seus pares. Vencem quando, exaustos preza e caçador, chocam-se por pura atração anatômica e acabam tendo por companhia, além do incansável copo transbordando, o par da vez.

Vale ressaltar que esse papo aconteceu no século passado: tempos em que as mulheres eram mais intimidadas pela conservadora sociedade cristã. Hoje os tempos são outros e até os que não adotam nem um perfil nem o outro também podem se dar bem. O sucesso, contudo, é menos frequente. O bêbado e o obcecado estão sempre mais próximos do objetivo. Podem conferir. O primeiro não gasta tanto dinheiro quanto o segundo, mas tem de se afastar dos amizades. "Cada escolha uma renúncia", como diz o profeta que trabalha engraxando sapatos na esquina entre as ruas Mem de Sá e Lavradio.

Pois bem, estava eu na quarta-feira passada assistindo a TV a noite quando me lembrei das palavras do sábio companheiro de Pecebão. Não por causa das mulheres, já que a minha velha dormia ao meu lado e nesta altura da vida não quero comprar briga com ela, que já mostrou no tempo de casamento ser vingativa como a minha sogra e chata como a hora cívica da época do colégio. Vi os políticos de Brasília e os cartolas dos grandes clubes brasileiros e lembrei das personalidades evocadas pelo meu parceiro de bar, aqui no Andaraí. E veio a minha cabeça uma relação que o faria engasgar na hora de mastigar o provolone  no restaurante do Seu Luís: dirigentes de clubes e os petistas são todos, sem exceção, alcoólatras em busca de suas metas. Em vez de irem direto ao ponto, fazem média junto a quem está próximo e adiam a peleja. 

Não duvido que eles queiram realmente alcançar o desenvolvimento de suas respectivas instituições. Afinal, os dirigentes são, por via de regra, torcedores, enquanto os petistas, em muitos casos, sofreram na pele os golpes do conservadorismo durante a ditadura. Entretanto, objetivos outros acabam por prendê-los e tomar muito tempo. Digo aqui da corrupção e dos interesses escusos sim, mas também da boa relação que eles tentam travar nos meios por onde circulam e da imagem que tentam passar para o público.

O programa de sócio-torcedor é espetacular, aumenta a arrecadação e o vínculo entre os torcedores e o clube, mas é deixado de lado por colidir contra os interesses das empresas que vendem ingressos ou por desagradar as torcidas organizadas. Dilma pede uma Constituinte para arejar o cenário político e trazer pessoas interessantes novamente para a política, mas a bancada ruralista, por exemplo, teme o fim do coronelismo e a perseguição aos crimes que são cometidos na Câmara e no Senado.

E cada vez mais o pretendente está alcoolizado, e cada vez mais ele se distancia da garota da noite que, nessa altura da madrugada, já começa a pensar em como vai voltar para casa ou em procurar a outra amiga que, acompanhada pelo obcecado, já deve ter a maquiagem borrada ou o cabelo despenteado. E o tempo passa, o desenvolvimento não chega, e políticos esportivos e engravatados com a estrela no peito só fazem por fortalecer o status quo. Apesar de desejar o progresso, apesar de achar a donzela irresistível.

Só que, até meu parceiro de mesa fixado nos estanques modelos de sedutor, teria que se render ao meu argumento final. Diferente do que aconteceria na nossa época de gafieira, o rapaz não vai poder terminar a noite com o gogó para alto, pensando no que fará na próxima vez que encontrar a menina (que, provavelmente, não terá sua face lembrada). O momento de instabilidade social vai levantar o cadáver e pressioná-lo a fazer o que tem que ser feito. Com o adiamento do plebiscito, o Distrito Federal dá mostras de que não confia na ebulição que vem das ruas e fecha os olhos para a Copa do Mundo tensa que se constrói, a cada superfaturamento, diante dos olhos da Fifa. E é possível que a revolta se estenda também para o universo, até então isolado, dos clubes de futebol. O efeito da bebedeira promete ser nauseabundo durante um longo tempo após a madrugada de flerte. 

por Helcio Herbert Neto.                                                                                   




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