Belchior não poderia saber que Galo e Newell's duelariam
hoje pelas semifinais da Libertadores.
"É briga de cachorro grande com supositório de
pimenta", diria Washington "Apolinho" Rodrigues, lendário
radialista carioca. Hoje, 03 de julho de 2013, às 21h50m, horário de Brasília,
Atlético e Newell's Old Boys, da Argentina, abrem o duelo pela principal
semifinal da edição deste ano. Será um Coloso del Parque lotado com 42 mil
"leprosos" empurrando.
Ya se van abriendo las puertas
Nos encontramos otra vez
Mi corazón latiendo cada vez más fuerte
Un día más para alentar, para estar con vos
Llegan los pibes, las banderas
Todos los barrios estarán
Vuelvo a ver la cancha llena
La fiesta ya va a empezar
En la
platea y en la popular
Todos los trapos colgados están
Cómo no sentirme así
Te llevo adentro del corazón
Vivo solo para vos
Si muero que sea de lepra
Si muero que sea de lepra
Cuando los once van saliendo
Ya no cabe la explicación
Bombo y tambor
El humo rojinegro y la mejor canción
Querido Newell’s la banda ya llegó
Todos los trapos colgados están
Cómo no sentirme así
Te llevo adentro del corazón
Vivo solo para vos
Si muero que sea de lepra
Si muero que sea de lepra
Semana que vem, provavelmente, as coisas se invertem e aí
são os leprosos que vão sentir o bafo no cangote da massa atleticana no Horto,
onde caiu, está morto. Dizem alguns que estes são os dois jogos mais
importantes da história do Atlético. Não sei. No passado, um título brasileiro
e mesmo um mineiro eram muito importantes para o torcedor, e o Galo o conquistou
com brilho. Mas faz muito tempo, e muitos dos atleticanos que inventaram o
inferno do Independência nem eram nascidos, então faz sentido a dimensão do
jogo de agora.
O jogo em si, a gente sabe mais ou menos como vai ser. Vai
ter pilha, bateria, rádio, chinelo, laser, papel higiênico em rolo e picado
dentro de campo. Vai ter fumaça, bumbo, bandeira, faixa - entre elas aquela que
diz "Si muero, que sea de lepra" e fica bem estendida no meio da
arquibancada, de frente para o plano principal enquadrado pela TV. Arquibancada
de cimento, pão com linguiça, cerveja e cigarro na plateia.
Padrão FIFA não vai
ter. Vai ter dedo na cara, mão na bunda, chute no tornozelo, eventualmente
cusparada, falhas de arbitragem e milonga.
Libertadores é pornô.
Vai ter comentarista dizendo que o time brasileiro não pode
cair na provocação. Vai ter outro dizendo que o futebol atleticano é moderno.
Ninguém vai dizer que o Galo é retrô. Ninguém vai lembrar que era mais ou menos
assim que o futebol brasileiro jogava, salvo a disparidade física, quando não
havia torcedores do São Caetano rico, o Chelsea, entre os meninos brasileiros
de 15 anos. Um jogo agudo, para dentro do gol, com bola rolando veloz no
meio-campo (tiki-taka é coisa de outra gente, aqui nunca foi assim), ponteiros
incisivos dos dois lados, um 10 à vera (que Ronaldinho sempre pode vir a ser) e
um centroavante de referência.
O Newell’s joga bola, tem um time raçudo e experiente,
identificado com as cores da camisa e um atacante com o selo do futebol
argentino clássico, o enjoado Ignacio “Zlatan” Scocco (ele é a cara do
Ibrahimovic), um pentelho que cai pelos dois lados do campo, parte para cima do
marcador, cansa o beque, inferniza a defesa e sabe chutar.
O jogo de hoje tem tudo para ser anacrônico. Quem nunca viu
seu time ganhar a Libertadores pode até dizer que é um torneio ultrapassado,
que precisa ser revisto pelas normas internacionais, etc.. Mas reza baixinho
embaixo do cobertor toda quarta à noite: “não permita, Deus, que eu morra, sem
ter visto meu capitão levantar essa taça”.
Eu rezo para que nunca se uefachampionsleague-se a
Libertadores. Eu quero ganhá-la de novo do jeito que ela é. O Mundial nem me
importa.
“Eu era alegre como um rio, um bicho, um bando de pardais.
Como um galo quando havia, quando havia galos, noites e
quintais”
Belchior, chorando suas saudades, não poderia imaginar que
hoje teria rinha à moda antiga. Hoje tem.
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