(Danilo Santos/ BFR/ Divulgação)
Perdoe sentenciar, mas são raras as pessoas que o
conhecem. Santiago é o pescador cubano de "O Velho e o Mar", de Ernest Hemingway. Ao longo do clássico,
esse personagem trava uma batalha com o maior peixe-espada da baía da pequena
ilha. A temática parece simples, e é. Contudo, ao longo da história, quem lê
percebe que o que se passa ali é muito parecido com as tarefas que as pessoas
que andam por aí, nas ruas, estádios e filas do pão, tomam para si em suas
rotinas. Tarefas absurdas, tão eficientes quanto empurrar parede ou enxugar
gelo, que separam os mortais da glória.
Enquanto a batalha para levar aquela tonelada para a balança
da peixaria segue, o velho estabelece uma relação com o espadarte que mordeu a isca.
Em vez de ser tomado pelo ódio naquele momento de tensão, Santiago celebra o
companheirismo. Embora tudo naquela situação indicasse que ele devesse salivar
de raiva até chegar ao porto com a carcaça morta do peixe, ele mostra sua
solidariedade.
É raro um Seedorf que trata a torcida, os companheiros e o
clube com uma cordialidade nua, imaculada, sem interesses escusos. Que levanta a Liga dos Campeões e a Taça
Guanabara com a mesma sinceridade. Não é apenas a inicial que evoca o
protagonista de Hemingway – Clarence é tutor, é
solidário e um pouco Santiago.
Há
poucos com esses traços. Poucos que tornam os regulamentos válidos, que tomam um cartão
amarelo indevido como o camisa 10 alvinegro recebeu (no segundo tempo, por uma
simulação que não aconteceu, houve um encontrão justo) e são capazes de levantar
e, no máximo, manifestar um sorriso de canto de boca. Ainda mais em tempos de
brigas de torcida sem fim, de Kevins mortos com tiros no olho, com Brunos com
um futuro de duas décadas de pena por um crime digno de Haniball Lecter, e de
desencorajadas tentativas de tornar efetivamente pública a Copa e a Olimpíada
dos próximos anos. Não é nada pessoal, mas é realmente difícil encontrar um
Santiago por aí...
Por Helcio Herbert Neto.
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