quarta-feira, 13 de março de 2013

Você nunca ouviu falar no velho Santiago


(Danilo Santos/ BFR/ Divulgação)

Perdoe sentenciar, mas são raras as pessoas que o conhecem. Santiago é o pescador cubano de "O Velho e o Mar", de Ernest Hemingway. Ao longo do clássico, esse personagem trava uma batalha com o maior peixe-espada da baía da pequena ilha. A temática parece simples, e é. Contudo, ao longo da história, quem lê percebe que o que se passa ali é muito parecido com as tarefas que as pessoas que andam por aí, nas ruas, estádios e filas do pão, tomam para si em suas rotinas. Tarefas absurdas, tão eficientes quanto empurrar parede ou enxugar gelo, que separam os mortais da glória.

Enquanto a batalha para levar aquela tonelada para a balança da peixaria segue, o velho estabelece uma relação com o espadarte que mordeu a isca. Em vez de ser tomado pelo ódio naquele momento de tensão, Santiago celebra o companheirismo. Embora tudo naquela situação indicasse que ele devesse salivar de raiva até chegar ao porto com a carcaça morta do peixe, ele mostra sua solidariedade. 

Esse é o princípio do esporte. Qual a razão das regras interpretativas, que geram polêmicas sem fim nesses tempos de um sem número de câmeras à beira do campo? É por crer na amigabilidade dos atletas, em sua postura esportiva e cordial para com quem vê e disputa a partida. Seria o ideal, se existissem muitos indivíduos como o ícone da obra que o escritor norte-americano (que, por sinal, publicou esse livro já envolto da escuridão que culminou, poucos anos depois em sua morte). E não há.

É raro um Seedorf que trata a torcida, os companheiros e o clube com uma cordialidade nua, imaculada, sem interesses escusos. Que levanta a Liga dos Campeões e a Taça Guanabara com a mesma sinceridade. Não é apenas a inicial que evoca o protagonista de Hemingway – Clarence é tutor, é solidário e um pouco Santiago.

Há poucos com esses traços. Poucos que tornam os regulamentos válidos, que tomam um cartão amarelo indevido como o camisa 10 alvinegro recebeu (no segundo tempo, por uma simulação que não aconteceu, houve um encontrão justo) e são capazes de levantar e, no máximo, manifestar um sorriso de canto de boca. Ainda mais em tempos de brigas de torcida sem fim, de Kevins mortos com tiros no olho, com Brunos com um futuro de duas décadas de pena por um crime digno de Haniball Lecter, e de desencorajadas tentativas de tornar efetivamente pública a Copa e a Olimpíada dos próximos anos. Não é nada pessoal, mas é realmente difícil encontrar um Santiago por aí... 

                                                                                                     
Por Helcio Herbert Neto. 

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