segunda-feira, 2 de julho de 2012

Espanha, Itália e a Extinção do Segundo Atacante


Espanha campeã. E ai? O que fica para o futebol?

Com certeza o que mais chama a atenção em uma primeira análise é a faiscante ausência da referência. Com base (novamente) no modelo azul-grená da Catalunha, Vicente del Bosque abandonou a fixação pelo tradicional atacante de área nos momentos decisivos, muito em virtude da má fase de Fernando Torres, muito pela contusão do dinâmico David Villa. A formação campeã, pródiga nas trocas de passes e em um avanço massivo e consistente manteve a identidade conseguida com Luís Aragones em 2008 e condecorada na Copa de 2010.

Entretanto, é vã qualquer crença de que esse estilo de jogo vai se propagar pelo mundo. A maneira coletiva dos 'Rojos' se apresentarem é fruto de condições ímpares: a perícia de seus atletas, o espírito do tempo ao qual esse grupo se insere, e outras arestas que condicionaram o brilhantismo espanhol. Ver no método dos vencedores da Eurocopa 2012 a tônica para um novo futebol nos próximos anos é um ato de leviandade. Há sim, um outro processo em percurso, mais silencioso e pulsante, que caminha na ponta dos pés para não atentar os torcedores do esporte mais praticado do planeta.

Os segundo-atacantes foram à bancarrota. O processo, que teve estopim na formação do império do sistema 4-2-3-1 na Copa da África, parece estar consolidado. O fato de acrescentarem mais um dígito no 'nome' do sistema de jogo (que, antigamente, era composto por apenas três números, referentes à linha defensiva, média e ofensiva) indica uma mudança substancial. A fusão entre a frente de meias e de atacantes que aconteceu em decorrência do desenvolvimento da condição física do esporte foi aplaudida por muitos no último mundial. 'A volta dos três atacantes', alguns sentenciaram. Não. A transformação do segundo-atacante em meio-campo seria uma frase mais apropriada.

Di Maria, Sturriedge, Robinho... todos já encarregados de impedir o avanço dos laterais nos clubes. A Euro só oficializou a jornada dupla dos atletas da posição. Solitários, os atacantes agora raramente aparecem acompanhados antes da chegada dos meias. O rechaço final à alegação de que vivemos uma 'onda ofensiva' é a constatação de que Ramires, volante de origem, ocupa o mesmo posto no Chelsea que Lucas, o ofensivo jovem, exerce no São Paulo. Quando um cabeça-de-área e um meio-atacante podem exercer a mesma função, ocupar a mesma faixa de campo, há alguma mudança no modelo ortodoxa.

A Itália, a surpreendente vice-campeã, também lança mão do 4-2-3-1, exigindo de Cassano uma colocação mais lateral e preocupada com o avanço do time adversário. Aliás, fica marcado o fascículo da redenção do time azul dentro de campo nessa competição, embora que ainda maculado pela recente aparição de casos de manipulação de resultado. Pirlo, Buffon e Balotelli (que possui somente UM ano a mais que Neymar) assumiram a responsabilidade de restabelecer o time tetracampeão no cenário da bola. E conseguiram majestosamente.

Por Helcio Herbert Neto.

Um comentário:

  1. Bom post, como sempre! Bem, eu vejo muito oba oba em cima de esquemas táticos que viram moda!! E discordo totalmente dessa mania que a maioria dos treinadores brasileiros tem, de seguir o esquema da moda que normalmente é utilizado pelos campeões europeus... Isso é ridiculo!!! Há algumas décadas, o esquema ""certo"" ou ""da moda"" era jogar com pontas bem abertos extremamente ofensivos, anos depois o """certo""" era jogar com 03 zagueiros liberando os alas, agora o ""certo"" é jogar com três ou até quatro meias, só porque os times europeus estão jogando assim... Puxa, que falta de criatividade, que falta de originalidade!!!! Não existe, nunca existiu e nunca existirá o esquema tático perfeito. O melhor esquema será sempre o que melhor aproveitar as características dos melhores jogadores do time!! Se tens excelentes zagueiros no plantel, que jogue com 03 zagueiros!!!! Se tens vários excelentes volantes no plantel, que bote 03 volantes!!!! Se tens vários meias maravilhosos no plantel, que bote 03,04,05 meias no time, não há problema!! Mas quando o treinador impõe ao time jogar em um determinado esquema só porque é a "tendência do futebol", sem considerar as características de seus principais jogadores, aí pode ter certeza, a coisa vai desandar, com certeza vai perder o grupo!! Já pensou se anos atrás Luis Aragones quisesse implantar o esquema da moda ao invés de montar um time com um esquema original e que priorize seus principais jogadores (Xavi e Iniesta)?? Já pensou se Rinus Michels optasse pelo esquema da moda ao invés de conversar com seus principais jogadores e criar o incrível carrossel holandês?? Já pensou se a seleção de 70 jogasse de acordo com os padrões da época, e tivesse deixado de colocar seu vários camisas 10 em campo??? A propósito, falando especificamente do alardeado 4-2-3-1, eu penso que esse esquema arrebenta com o talento dos meias que na minha opinião, sem dúvida é o lugar dos craques. Na Espanha e no Barcelona dá certo porque são várias variáveis favoráreis, e um longo tempo de jogadores jogando juntos onde todo o time está entrosado, agora aplicar este esquema de uma hora pra outra dificilmente dará certo. E vale lembrar, a técnica sempre andará na frente da tática, mas quando as duas podem caminhar juntas aí é que realmente as coisas boas acontecem!!

    Glenyo Lopes (Goiania GO)

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