quinta-feira, 29 de março de 2012

Despedida Animal


Era uma quarta-feira chuvosa no Rio de Janeiro e a velha e conhecida Colina se encontrava totalmente apagada. Um cenário quase sombrio, não fosse um único foco de luz revelando o motivo da festa. O holofote solitário perseguia o dono do espetáculo, que adentrava ao gramado de São Januário sob fogos ininterruptos e gritos apaixonados da legião de fãs conquistada ao longo de intensos 16 anos. E todos eles passavam como um filme na cabeça de Edmundo nos poucos segundos que o ídolo demorou para chegar ao meio. Em lágrimas, recebeu a camisa oficial do jogo amistoso que marcaria sua despedida, vestiu e levou ao delírio o torcedor vascaíno, que tanto se acostumou às idas dolorosas e vindas festejadas do Animal.

O Barcelona de Guayaquil, adversário do Vasco na final da Libertadores de 1998, foi o time escolhido para a festa. Naquele ano Edmundo já havia se transferido para a Fiorentina, mas para os cruzmaltinos não importava, era como se tivesse jogado. Um ano antes, em 97, o Animal, junto dos jovens Felipe e Juninho - hoje de volta ao Vasco e presentes em sua despedida -, havia levado o clube ao título Brasileiro, com direito a recordes de artilharia e três gols sobre o Flamengo nas semifinais do torneio.

Uma carreira marcada, sobretudo, pela passionalidade. Polêmico, politicamente incorreto, apaixonado pelo Vasco e ídolo também do Palmeiras; relações que ele mesmo classificou como 'amor de mãe' e 'amor de mulher' respectivamente. Daqueles jogadores raros de se ver hoje em dia. Adepto da experiência visceralmente vivida em campo. Completamente entregue, e muitas vezes até atrapalhado pelo excesso de paixão. E assim desenhou sua trajetória inconstante, mas inegavelmente vitoriosa. Uma página do futebol brasileiro. Emocionado, foi merecidamente homenageado por ela nesta quarta-feira.

Os torcedores do Vasco que fizeram o sacrifício de ir a São Januário debaixo de chuva certamente foram recompensados pelo gran finale do Animal. Depois do hino nacional, das palavras do presidente Roberto Dinamite e das lágrimas do dono da festa, ele não fez cerimônia. Com uma forcinha do árbitro, que marcou pênalti em falta fora da área, o craque fez a alegria dos vascaínos e, claro, a sua. Mas o clímax foi mesmo no segundo gol, quando Fagner cruzou e o Animal emendou de primeira, com muita categoria; na comemoração, a provocante reboladinha, imortalizada no Flamengo e Vasco de 97.

A festa continuou, com uma chuva de gols, o placar de 9 a 1 e, no fim a substituição tão aguardada. Aos gritos já famosos de "Ah, é Edmundo", o atacante deixou o campo com os olhos marejados e batendo no peito. À beira do gramado, enrolado em uma bandeira do Vasco, o ídolo não conseguiu dizer muitas palavras. Apenas um obrigado que não podia faltar e o adeus que certamente deixará saudades.







Por Beto Passeri via ogol.com.br

Um comentário:

  1. Olá Beto,bom dia!Uma das vantagens de se ter um longo caminho atrás de si,é poder ter visto muita coisa e eu vi Edmundo jogar.Acompanhei toda a sua carreira,os dribles inacreditáveis,a irreverencia,o talento e inteligência que brotavam espontaneamente dentro do campo.Vi o amor conturbado que este filho do Vasco vomitava sem meias palavras,as inconsequencias na vida pessoal,as glorias e lágrimas que ele,sem pudor,dividia com o Brasil inteiro.Sei de seus erros,alguns muito graves,e de seus acertos e sei,principalmente,do tamanho do coração deste "Animal".Edmundo é um ser humano por quem tenho profunda admiração,exatamente por ele ser esta montanha de certos e errados e por nunca,nem nos piores momentos,ter tentado ser o que não era.São Januário,ontem,estava lindo e a torcida Vascaína prestou uma homenagem que ficará para a história,do Vasco e do Edmundo.Abraços,Anna Kaum.

    ResponderExcluir