quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O Beato


Foi pela boca do ex-jogador e agora diretor de futebol do Palmeiras, César Sampaio, que Marcos anunciou publicamente o fim de sua carreira. Termina assim, num piscar de olhos. Aos 38 anos, castigado pelas várias lesões, pelo mau hábito do cigarro e pelos próprios feitos honrosos.

Um adeus que vinha se chegando há tempos, mas sempre sem coragem. Sempre a necessidade de um descanso no ritmo frenético era abafada pelo calor, pelo carinho da torcida (não só – e principalmente – a palmeirense). A convicção de não estar mais no mesmo nível de outrora se perdia na linha passional do futebol. Na linha de quem ama o que faz. Vinte anos. De carreira, de Palmeiras acima de tudo, de seleção e de falhas gritantes, de entrevistas raras – para o bem e para o mal -, de milagres e de mil lágrimas.

Duas décadas dedicadas exclusivamente ao Palmeiras, desde 1992, quando ainda era um menino, tinha cabelo vasto e nem sonhava chegar aonde chegou. Reserva de Velloso, a história de Marcos mudou em 99, com a contusão do goleiro titular e a oportunidade de guardar o gol palmeirense em uma Libertadores. Nunca mais saiu.

Pênaltis históricos defendidos contra o rival Corinthians, a conquista da América duas vezes (Libertadores e Mercosul) e o Mundo pela seleção, dentre outras tantas vitórias. A mais saborosa e mais dolorosa delas, por mais paradoxal que seja, a da Série B, em 2003, levando o Porco de volta à elite do futebol brasileiro.

Apesar de compreensível, dói a todos receber a aposentadoria de um goleiro que foi muito além das três traves, de um jogador que foi muito além do gramado e de um atleta que foi muito além do clube ao qual jurou e cumpriu fidelidade.

Mais que defesas inenarráveis sob o nome de um dos maiores goleiros brasileiros de todos os tempos, o futebol perde um ícone, uma personalidade daquelas que é cada vez mais difícil de se encontrar. Como o próprio Marcos disse certa vez, "o futebol está ficando muito chato, não se pode dizer e nem fazer nada". E sentiremos falta dessa língua afiada.

É de histórias assim que o futebol se constrói, e nós é que devemos agradecer por podermos contá-las depois.

Um dos profetas mais famosos da história é São Malaquias, que teria previsto a morte de todos os Papas, desde Celestino II (1144) até o último, que seria Pedro Romano, e viria – morbidamente – logo após o atual, Bento XVI. Na última profecia, São Malaquias escreveu:

Na perseguição final à sagrada Igreja Romana reinará Pedro Romano,
que alimentará o seu rebanho entre muitas turbulências,
sendo que então, a cidade das sete colinas (Roma) será destruída
e o formidável juíz julgará o seu povo.
Fim.


Como nem todos acreditam em Malaquias, nem em Papas, mas creem em Marcos, o fim é esse:

Na perseguição final à apaixonada torcida alviverde reinará Marcos Santo,
que defenderá o seu clube entre muitas turbulências,
sendo que então, a cidade do Palestra Itália estará comovida
e o formidável destino julgará os seus fãs.
Fim.



Por Beto Passeri.

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