terça-feira, 11 de outubro de 2011

Série Marginalizados: O Quinto Beatle

Para ouvir ao som de: John Lennon - Sunday Bloody Sunday

Bob Bishop, olheiro do Manchester United em 1961, foi à Irlanda incumbido de achar um bom jogador; com sorte e olhar apurado, um craque. Jamais passou pela sua cabeça voltar para a Inglaterra com um mito na bagagem.

Bons jogadores jogam acima da média, craques ultrapassam essa esfera, e mitos são raríssimas personalidades que mudam a história do esporte para sempre. Eles inovam a forma de jogar de uma geração inteira, fazem estilo próprio, quebram paradigmas da bola e riem do impossível.

Com 17 anos, o jovem de Belfast estreava no profissional formando um lendário trio ofensivo com Bobby Charlton e Denis Law, que imortalizaria os Diabos Vermelhos. George Best era único, mas não só (e exatamente por isso) dentro de campo. Um vanguardista do marketing pessoal e um precursor do consagrado “jeito boleiro”.

Best era um Garrincha europeu. Driblador, de muitos zagueiros e incontáveis mulheres; sedento, por gols e por álcool. Nas quatro linhas, era um presente divino, uma obra completa, minimamente perfeita; fora delas, uma cólera insaciável, um ser humano eternamente vazio.

O futebol incontestavelmente genial, o tipo bonitão, a megalomania e a tendência a soltar pérolas para a imprensa o fizeram o primeiro grande popstar do mundo da bola. Na época em que os “quatro garotos de Liverpool” estouravam sucessos no mundo inteiro, os tabloides ingleses estampavam, jogo após jogo, fotos de Best sob a alcunha de “O Quinto Beatle”, tamanha a popularidade que atingiu.

Os 90 minutos não bastavam mais para o ponta-direita norte-irlandês. Ele queria o foco em tempo integral; nos gramados e nas noitadas, nos jornais e na publicidade, nos uniformes e nas roupas de marca. Passou a investir em casas noturnas, lojas de grife e o que mais lhe rendesse dinheiro e fama.

Diriam que tinha tudo que se pode querer; a vida dos sonhos. Mas não. Bebia para olvidar suas responsabilidades terrenas e lidar com o peso de ser um Deus. E dormia com muitas mulheres para lembrar que estava vivo e para esquecer da vida. Fora dessas contradições, não encontrava fadas.

O talento sobrenatural foi consumido pela cabeça fraca, e uma trajetória que indiscutivelmente estaria nos anais do futebol foi recalcada pela história do esporte. A falta de oportunidade de disputar uma Copa do Mundo, as constantes críticas sobre sua personalidade e as várias pausas ao longo da carreira fizeram com que a “fábula” de Best se esvaísse na linha tênue do tempo.

Em 2005, bem depois de ter se afastado dos campos e do foco, a lenda britânica foi internada em estado grave, pois não havia se afastado do álcool. E foi assim que seu maior companheiro ao longo de toda a vida o traiu, entregando-o à solidão pavorosa da morte. Mas não antes de George Best fazer seu “último brinde”, como assim definiu. Na cama do hospital, ouviu seu amigo Denis Law ler uma carta que continha uma usual mensagem de apoio e a assinatura que tornou a ruína da vida menos dolorosa: “Do segundo melhor jogador de todos os tempos, Pelé”.


Por Beto Passeri.

Um comentário:

  1. Alô Beto,boa tarde! Voce deve mesmo gostar de futebol para se lembrar de George Best,sempre me lembro da sua história,perto do aniversário de Garrincha e mais recentemente quando Sócrates começou sua briga pública pela vida,por conta dos estragos que o álcool lhe causou.Tomara que o "Magrão" tenha sorte melhor e a vc,parabéns pelo texto e pela lembrança.Abraços,Anna Kaum.

    ResponderExcluir