segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Só quem ouviu 'Aroud the World' de perto


De longe, na comodidade do sofá, tudo parece mais leve. Muito mais fácil, basta pressionar o botão do controle remoto e pronto. Outra realidade começa e deixa para trás todas as experiências sensoriais que o canal passado trazia. Assim faz a maior parte da população mundial, privada por condições econômicas, sociais, políticas, físicas ou, simplesmente, devido a epidemia de preguiça que surge da televisão. Para essas pessoas, a vida é como uma paisagem.

Entretanto, do outro lado da lente, estão os que realmente vivenciam aquele mundo. Que sentem, pelo tato, todos os aspectos trazidos por aquele universo. Diferentemente dos espectadores, os agentes são, de certa forma, mão-de-obra e matéria-prima da História. Eles entendem verdadeiramente as emoções que envolvem os fatos. Eles são parte da alma do momento.

Os Profetas de chinelos felpudos tinham convicções irredutíveis sobre o Rock in Rio. Eles acreditavam que se tratava de uma imitação barata dos eventos originais. Um festival que só trazia uma marca forte. Os grandes analistas de poltrona, de longe, foram enfáticos: shows fracos serão a tônica do evento que retorna ao Rio de Janeiro após um período de dez anos. Distantes do coração pulsante da música que ia contagiar a cidade, eles viam toda a repercussão como simples efeito publicitário.

A análise acomodada acontece em diversos tipos de espetáculo. Já faz algum tempo que o hábito de realizar a narração em um ambiente outro que não o Estádio se consolidou no Brasil. O locutor, enquadrado pelas limitações que a imagem que as câmeras transmitem, fica engessado, distante da atmosfera vivida pelos torcedores durante a partida. Cada vez mais monótonas, as transmissões se transformam em apenas mais uma peça do mosaico televisivo, da passagem incessante de canais que conduz, irredutivelmente, ao sono.

Apesar das obscuras e questionáveis armações políticas que estavam envolvidas no evento, como o apoio financeiro massivo e desnecessário da Prefeitura carioca na produção, o Rock in Rio é uma chance para uma multidão de vivenciar, de pôr os pés no chão e os ouvidos nas ondas sonoras de grandes artistas que influenciam o pensamento global. Estar sob o Palco Mundo naqueles momentos é uma oportunidade única para uma geração.

É inadmissível analisar o que acontece nos Estádios pela televisão. É impossível entender o que aconteceu ontem, durante a apresentação do Red Hot Chili Peppers, sentado na frente da TV. Apenas os torcedores de arquibancadas sabem o verdadeiro sentido do esporte. Somente aqueles que ouviram 'Around the World' de perto sabe o que significa o Rock para a cidade do Rio. Quem esteve lá saiu com a sensação de dever cumprido. Junto com os regenerados californianos, que após uma passagem fraca na edição de 2001 fizeram um show histórico, aqueles cem mil roqueiros molhados foram contagiados pela convicção de que a vida é bela ao redor do mundo.

Por Helcio Herbert Neto.

2 comentários:

  1. Bom dia Herbert!Moleque,vc está coberto de razão!A carteira de identidade e o espelho não se cansam de me lembrar que não sou mais uma menina mas minha alma é retardada,além disso,depois de morar a vida toda no Rio,hj moro numa cidadezinha minúscula onde o único lazer é a maldita T.V. e fico vendo e ouvindo análises toscas sobre as mesmas coisas que vc e me perguntando se não estão falando de barriga cheia.Quase matei meu filho porque ele não quiz,por preguiça,ir ao Rock in Rio,se eu pudesse,sábado e domingo nada me arrastaria de lá.Toda vez que vejo o Estádio lotado,ou não,a torcida berrando,se rasgando pela bola que raspou no travessão,morro de inveja e sei que nem perna quebrada me impediriam de ir.Sabe aquela frase de caminhão "Deus dá asas a cobras" só eu sei o quanto é verdadeira.Roupão e chinelos são muito confortáveis e convenhamos,um bocado seguros tb mas definitivamente quem os prefere,sem juízo de valores,vai,como disse Vinícius,passar pela vida sem vive-la e ter que se contentar com o Verbo,que dessa maneira é triste e solitário.Não se perca mas não deixe "A Banda" passar sem ir atrás dela ok?Abraços,Anna Kaum.

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  2. Excelente post! Realmente aqueles cem mil roqueiros molhados foram contagiados pela convicção de que a vida é bela ao redor do mundo!

    Pepê, blog O Agonizante

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