quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Fagulha no palheiro

Uma hora algo queima. Não de repente. Vai fritando aos poucos.

Pode ser uma frustração, um desejo que não se realizou. E pode ser defeito do sistema. Um alimentando o outro. Abrasando.

Por exemplo: quer ser artilheiro, craque com a dez, armador clássico, lançador, dono de arrancadas e dribles, passes de sinuca.

Desde pequeno tem talento para assumir o comando do ataque, o controle do meio-campo. O destino que carrega no nome.

Mas ninguém reconhece. No par-ou-ímpar, mais novo, vai pra zaga. Na peneira, tímido, vai pra zaga. No juvenil, sem lugar no meio e na frente, vai pra zaga.

E agrada. Claro, joga melhor que os zagueiros. Muito melhor.

Nunca mais sai de lá. Desarma. Marca. Tira a bola e passa pra outro brilhar, pro armador, pro meia, pro atacante, pro craque, pro artilheiro.

Nada de lançar, driblar, encantar. Só combate, cerca, impede as melhores jogadas.

Desfaz o que sempre quis fazer.

O reverso do seu sonho.

Nasceu pra enfrentar o mar – mas é faroleiro.

Zagueiro. E dos melhores. Titular, campeão, seleção, Europa.

Casa, carro, dinheiro, conforto.

Mas lá dentro um chip vai fritando.

Esquentando.

Acaba pegando fogo.


LUIZ GUILHERME PIVA (blog do Juca Kfouri)


Por Beto Passeri.

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